21 de julho de 2015

organismo certo

Às incertezas tratarei de as jogar pela janela, como quem sacode a toalha depois do pequeno-almoço.
As migalhas de pão, por muito pequenas que sejam, incomodam sempre.
O mesmo com as incertezas – se não tratamos delas atempadamente, entranham-se de tal modo que nem uma lavagem a alta temperatura é capaz de remover a nódoa.
Deste modo, as incertezas serão sempre tratadas com urgência, como uma ambulância em marcha acelerada em direção ao hospital das dúvidas.
Assim que lá cheguem, terão aplicada a terapia exata para a sua imediata expulsão do organismo.

Um organismo certo equivale a uma sobrevivência digna.




16 de julho de 2015

fuga

podemos fugir daquilo que realmente nos move, podemos crer que um caminho paralelo faz sentido.
o jogo seguro, a vida segura, as decisões salvaguardadas em caso de catástrofe.
mas a fuga, segura ou não, nunca perderá o seu estatuto - acto de evitar algo.
e fugir uma vida inteira não permitirá que toda essa vida seja plena.
despistam-se vontades com relativa facilidade, mas estas vão-se acumulando, pesando... tornando todo o caminho muito mais penoso.
surgem os desejos que se esquivam por imposição quase salazarista do lado racional.
segue-se o padrão. hierarquizam-se necessidades segundo a norma - fisiológicas, segurança, sociais, estima, realização pessoal.
norma, seguir a norma, o estatuto... fugir de nós mesmos.
mas há os inconformados, os que, à parte das pressões impostas por eles mesmos, não conseguem deixar de sonhar. e estes, mais cedo ou mais tarde, percebem que a ausência prolongada da sua essência, apenas reforça a sua real vontade.
percebem que há necessidades que se tornam fisiológicas não o sendo, e a ausência destas trazem consequências tão graves quanto uma greve de fome ou três noites sem dormir.
e, quando chega a consciência dessa realidade, as pernas negam-se a mover.. a corrida sem propósito chega ao fim.