16 de novembro de 2015

centro

o centro move-se, vai de um lado para o outro, é instável, depende do nosso olhar e da nossa atenção momentânea.
tudo pode ser centro.
manter próximo o máximo de centros relevantes, para que o desvio do que realmente importa seja menor -  contestação constante.


9 de novembro de 2015

uma vez, várias vezes


os espaços e as fotografias ocupam mais espaço do que aquele que lhes dei. - diz ele

quando foi a última vez que viste alguma coisa pela primeira vez? uma coisa completamente nova, quando foi? pensa bem. e quando foi a última vez que reconstruiste uma situação passada na tua cabeça? muitas, não é? e diz-me, quantas vezes recorreste ao passado antes de olhares?
a repetição está sempre presente, e tu olhas sempre como quem já viu. e assim vives demasiadas vezes o mesmo, está na hora da arrumação, o outono já chegou faz tempo.
 
 
 
 
 
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26 de outubro de 2015

ode aos meus

há dias cinzentos e os dias de outubro caracterizam-se por isso mesmo. 
para além da alteração do fuso horário, onde se perdem 60 minutos de luz todos os finais de dia em prol de uma luz matinal mais aceitável, hoje tive que me forçar à distância de um dos meus pilares. 2240 km é um número demasiado grande e sabes que sou de letras, os números não me fazem bem.
vou sentir a tua falta em todas as pequenas coisas. dos pequenos almoços sem fim, das tentativas de prática de desporto, das aulas de alemão, da maratona da tese, das falhas de energia,  das viagens de carro e da tua ingenuidade em acreditares sempre no meu sentido de orientação. vou sentir a falta da mesa na divisão da casa que nunca chegou a ter nome (e do tanto que crescemos com a troca de palavras por horas infindas). vou sentir falta da partilha de tudo e de modo tão natural, das verdades na hora certa, das horas de choro e de riso descontrolado, das tuas graças (sempre soberbas) ao universo. vou sentir a falta dos abraços, do respeito, do saber gostar, do saber ouvir, do saber e querer cuidar, mimar. 
brilhas tanto, sabes!? colónia não tem a menor ideia do presente gigante que acabou de receber.
vou continuar a escrever e tu vais fazer da música uma arte ainda mais incrível, pois acorda já é hora, tens o mundo a descobrir e todos os teus sonhos estão prontos a seguir.

hoje a ode é feita aos amigos, àqueles que se tornam família, que nos fazem felizes, todos os dias. e tu, és tudo isto e tanto mais.






20 de outubro de 2015

ode aos dias passados

contar o tempo pela norma enquanto se gosta sem fronteiras é um desafio.
os 365 dias volvidos reduzem-se, hoje, a uma contagem ínfima – e é tão desproporcional esta redução de escala.
ano 1.
o pedido acercou sem aviso prévio, o teu colo foi a casa e, com um segredo sussurrado, vi a vontade, senti a vontade, quis a vontade de um compromisso. quis mais, quis cada vez mais. as consequências perderam peso, o querer tornou-se imperativo.
dizem os poetas que o amor pode ter formas estranhas, mas ver em ti refletida a forma exata do que procuro sem que, ainda assim, o consiga descrever, é transcendente.
hoje não me acuso poeta, nem te escrevo a rimar.
hoje digo o que sinto, e que vieste para fica
r.


18 de outubro de 2015

diz-me em que estás a pensar

crês que o que escrevo tem o propósito de te regalar, comover;
crês nas palavras com destino certo;
mas as palavras que debito nem a mim pertencem;
a não ser nos breves instantes em que as escrevo e quando, tola e brevemente, acredito dar sentido à amálgama de perguntas que me (per)seguem.
epifania escassa traduzida numa espontaneidade fluída - o deslumbrar dos meus sentidos transcritos num abc universal.
não sei se te escrevo, se me escrevo, se te comovo, se te ocupo, se me lês, se me lembro do que aqui debito.

e atrai-me esta ignorância, circunstância e todas as reticências passíveis, possíveis.

13 de setembro de 2015

outras sensações

os acontecimentos interiores nada são para além de sensações, e por muito que essas sensações se preencham de outros - dos terceiros e quartos com quem nos vamos cruzando - nunca deixarão de ser uma idealização do que esses tais são para nós - ideias ora fantasmagóricas, ora fantasiosas. 

sentes-te triste, mas não consegues precisar em que sítio do teu corpo essa sensação ocorre. coração apertado? isso é real? ou apenas um sentido metafórico e um modo de te tranquilizares por teres dado casa à sensação?
estás no banco de jardim, tanto a pessoa que te acompanha quanto o local escolhido deixam-te feliz. voltas a casa, sem a pessoa e sem o banco de jardim - mas continuas feliz. que parte do teu corpo serve de abrigo? fantasia-se dizendo que as borboletas aparecem, ora no estômago, ora na barriga - voos mais ou menos limitados dentro do teu  próprio organismo - deixá-las voar apenas dentro do teu estômago é bastante mais limitador do que pela barriga inteira (dependerá do grau de felicidade sentido?).
intrigante, nunca foi claro para mim que a anatomia humana continha casulos.




21 de julho de 2015

organismo certo

Às incertezas tratarei de as jogar pela janela, como quem sacode a toalha depois do pequeno-almoço.
As migalhas de pão, por muito pequenas que sejam, incomodam sempre.
O mesmo com as incertezas – se não tratamos delas atempadamente, entranham-se de tal modo que nem uma lavagem a alta temperatura é capaz de remover a nódoa.
Deste modo, as incertezas serão sempre tratadas com urgência, como uma ambulância em marcha acelerada em direção ao hospital das dúvidas.
Assim que lá cheguem, terão aplicada a terapia exata para a sua imediata expulsão do organismo.

Um organismo certo equivale a uma sobrevivência digna.




16 de julho de 2015

fuga

podemos fugir daquilo que realmente nos move, podemos crer que um caminho paralelo faz sentido.
o jogo seguro, a vida segura, as decisões salvaguardadas em caso de catástrofe.
mas a fuga, segura ou não, nunca perderá o seu estatuto - acto de evitar algo.
e fugir uma vida inteira não permitirá que toda essa vida seja plena.
despistam-se vontades com relativa facilidade, mas estas vão-se acumulando, pesando... tornando todo o caminho muito mais penoso.
surgem os desejos que se esquivam por imposição quase salazarista do lado racional.
segue-se o padrão. hierarquizam-se necessidades segundo a norma - fisiológicas, segurança, sociais, estima, realização pessoal.
norma, seguir a norma, o estatuto... fugir de nós mesmos.
mas há os inconformados, os que, à parte das pressões impostas por eles mesmos, não conseguem deixar de sonhar. e estes, mais cedo ou mais tarde, percebem que a ausência prolongada da sua essência, apenas reforça a sua real vontade.
percebem que há necessidades que se tornam fisiológicas não o sendo, e a ausência destas trazem consequências tão graves quanto uma greve de fome ou três noites sem dormir.
e, quando chega a consciência dessa realidade, as pernas negam-se a mover.. a corrida sem propósito chega ao fim.

1 de junho de 2015

estar vivo exige de nós atenção
























                                                   atlas do corpo e da imaginação.GMT

14 de maio de 2015

tic-tac no contratempo

o nosso tempo não entra nas noções de tempo criadas pelos outros. 
o nosso tempo é extremista - tarda a passar quando não deve, passa a correr quando menos queremos.
é um tempo áureo e sempre com raios de sol à espreita.
é embriagado, comemorativo e sempre presente com futuro à vista.
é o tic-tac no contratempo das tempestades.
é sentido a dois tempos, felizmente sincronizados.
o nosso tempo é o que se sente ao olhar para um relógio sem pilha.
o nosso tempo é a ausência cronometrada pela ampulheta a dois tempos.
é espaço, liberdade, vontade e o querer sempre e cada vez mais.

o nosso tempo. o nosso amor. o nosso tempo.



16 de abril de 2015

diz-que-disse

assemelho o jogo do diz-que-disse ao percurso de uma barata tonta a fugir da sua sentença de morte declarada pelo dono do território invadido.
a barata, coitada, ganha proporções desmesuradas, causadas pelo nojo e repugna sentida pelo proprietário. duas missões: vê-la morta por um lado, sobreviver no outro.
o discurso, esse perde-se da sua função inicial, deturpa-se, perde a lógica pelo qual foi concebido.
a barata, estonteada, continua em círculos a tentar fugir sabe-se lá bem para onde..um buraco, uma zona inacessível, um sítio secreto até (e sobretudo) para o propietário. Existem sempre vantagens em ser-se em pequena escala, em tempos de guerra um metro quadrado transforma-se num país inteiro.
o discurso, perdido de si e entregue a outros, tenta reestruturar-se e voltar ao que era no seu propósito inicial. Uma sopa de letras com limite de palavras. duas missões: deixar as palavras entregues aos demais por um lado, aprender a esperar por outro.
antes a barata, antes a barata..está mais predisposta a vencer na adversidade.



4 de abril de 2015

viagem

as viagens, enquanto o caminho que nos leva ao destino, servem para intropeções, para colocar os pensares no devido lugar. a viagem, para mim, é papel e caneta. embalada pela velocidade, inspirada pela vista fugaz da paisagem. assim é a vida, ou melhor, assim vivemos a vida - a alta velocidade. e nada melhor do que ajustar velocidades, pois nao importam os 120km/h, estás parado, deixas-te levar.
 
 

3 de abril de 2015

sempre o universo.

o destino tem uma lógica própria, que transcende o pensar comum.
o que aconteceu, o que poderia ter acontecido e o que virá a acontecer não passam de equações complexas, sem lógica matemática aplicável. 
a variedade, no seu estado pleno. variedade alheia ao que somos, ao que esperamos ser, ao que poderíamos ter sido. 
o julgar que acaba atropelado pelo inesperado, pela bofetada de luva branca.
o nada fazer que é fazer tanto.
o fazer tanto e nada mudar.
o viver, o sentir, o deixa andar , o esperar, o correr atrás, o controlo utópico, as especulações, o alcançar, o gostar, o cuidar.
... o universo, sempre o universo.



16 de fevereiro de 2015

racionalidade e limites

pensar envolve o campo do raciocínio, organização de conteúdos, memórias, sensações, sentimentos e tudo o que mais houver a pairar. no pensar está implícita a passagem do tempo. não é imediato, permite pesar, balançar, arrumar e desarrumar coisas, vezes sem conta. é interior. é o confronto mais próximo que temos com nós mesmos. não implica movimento visível (sendo, contudo, o movimento interior mais avassalador do que qualquer exteriorização do mesmo).
agir, embora possa ser um acontecimento paralelo ao pensar, não exclui a possibilidade do inesperado. é uma ação exterior, verbalizada, com movimento, onde tantas vezes o pensar se perde de vista. surgem, portanto, dois pólos - agir consequente ou inconsequentemente. e a inconsequência emerge quando se julga que não pensar é mais rápido e que podemos confiar (cegamente) no instinto.

no fundo, não é nada mais para além de uma questão de aprender a estipular os limites da racionalidade.

9 de fevereiro de 2015

conflitos meteorológicos d'O indivíduo

o dia era de sol, com aquele calor insuportável cuja permanência à sombra se torna obrigatória. mas ele não ligava a isso. trazia vestida uma camisola de lã azul a fazer pandam com a côr do céu daquele dia. junto ao pescoço espreitava uma camisa aos quadrados. mas não era a camisa da côr-do-céu-do-dia que saltava à atenção, muito menos as calças de ganga mais-do-que-gastas, o gorro e as botas pretas. trazia com ele um guarda-chuva-que-também-guarda-sol colorido, a assemelhar-se a um arco-íris. e eu, que me abrigava do sol,  olhava o indivíduo com estranheza.

ele sorria.

decidi vencer o sol.larguei a sombra. aproximei-me.questionei-o porque o fazia.
hoje acordei e senti-me num daqueles dias cinzentos, daqueles em que a chuva não é uma ameaça mas sim uma certeza irrevogável. fui até à janela e vi o sol brilhar, a brilhar tão intensamente que quase me ofuscou. entrei em conflito, como podia eu sentir-me chuvoso num dia-em-que-o-sol-ofusca?! fui ao armário e vesti a roupa mais quente que tinha. saí à rua de seguida, não sem antes agarrar o guarda-chuva-às-riscas. sim, guarda-chuva.. porque em dias de conflitos meteorológicos nada melhor do que poder ser um arco-íris, não achas?
não soube o que lhe responder.quando souber, voltaremos a trocar palavras.

5 de fevereiro de 2015

hospício de animais


o louco que não tem porque nem para onde fugir, torna-se também fugitivo. os altos e imponentes portões do hospício dos animais não parecem intimidá-lo - sai confiante, montando uma avestruz.
mas a história não é sobre o louco que foge sem razão aparente, a história é a da avestruz, que pouco se parece importar com a presença de um humano montando o seu corpo ou com a pouca ou muita confiança que este traz.

esta é a avestruz que foge com o único propósito de acasalar uma vez que no hospício  não são admitidas mais do que uma espécie de animais, tornando o acasalamento num experimento para criação de novas espécies. 
o louco que não tem porque nem para onde fugir parece perceber a vontade da avestruz, talvez porque ainda lhe reste discernimento para perceber a forma características como se movem as asas ou por já lhe ter sido sugerido ser parte do experimento (tendo por isso enlouquecido).
no galope determinado para sabe-se lá onde o louco divaga sobre o internamento do doce bicho.
não,não foi por estares constantemente com a cabeça enterrada na terra, isso só mostra a clara lucidez que tens. não querer ver a realidade demente é a maior sanidade que alguém pode possuir. a culpa é dessas tuas asas que não se abstraem, não se escondem, não passam despercebidas... e esse abanar e agitar constante perturba os conformados.. julgam ser inúteis essas asas, julgam que devias prescindir delas. eu não te julgo, eu vim só aproveitar o passeio fora daqueles portões. 

4 de fevereiro de 2015

(d)escrever vontades

pudesse o meu cérebro funcionar como uma impressora e imprimiria o exacto momento em que me apaixonei por ti.
tenho essa imagem guardada e tenho a certeza que prevalecerá indeterminadamente na minha memória, no entanto, gostava de a poder imprimir e emoldurar, para que todos, sem exceção, a pudessem apreciar.
sei o segundo exacto em que aconteceu, sei a forma como me olhavas e a forma como passei a olhar-te. bastou um milésimo de segundo para uma mudança drástica de perspectiva... é inegável que isto das histórias de amor tem um q de mágico.
mas como o cérebro humano ainda não desenvolveu essa capacidade e tendo em conta que jamais me passou pela cabeça fotografar o momento, pois estava demasiado imersa nele para recorrer ao uso de qualquer outro instrumento, escrevo a vontade que tenho.


é, escrever e descrever vontades nunca foi tarefa fácil, parece-me até uma missão impossível.

fica a tentativa.

21 de janeiro de 2015

devaneios distantes

a distância é crua e impeditiva, impossibilitando a partilha no presente, impedindo a partilha no futuro que sempre espreita na esquina mais próxima.
a distância deturpa as medições, é o tempo dessincronizado nos quilómetros que perdem fim à vista.
a distância é olhar o horizonte no mar e o tentar incessante no delimitar da linha - por muito que não a consigas alcançar e limitar, por muito que a tua visão deturpe o que vês, não desistes de o fazer e insistes - queres ver sempre mais longe.

não podemos considerar a distância estanque uma vez que pelo menos uma de duas conclusões resultarão dela: deixarmo-nos vencer e apagarmos o que está do lado de lá, ou aumentarmos desproporcionalmente os sentires, os gostares.