5 de fevereiro de 2015

hospício de animais


o louco que não tem porque nem para onde fugir, torna-se também fugitivo. os altos e imponentes portões do hospício dos animais não parecem intimidá-lo - sai confiante, montando uma avestruz.
mas a história não é sobre o louco que foge sem razão aparente, a história é a da avestruz, que pouco se parece importar com a presença de um humano montando o seu corpo ou com a pouca ou muita confiança que este traz.

esta é a avestruz que foge com o único propósito de acasalar uma vez que no hospício  não são admitidas mais do que uma espécie de animais, tornando o acasalamento num experimento para criação de novas espécies. 
o louco que não tem porque nem para onde fugir parece perceber a vontade da avestruz, talvez porque ainda lhe reste discernimento para perceber a forma características como se movem as asas ou por já lhe ter sido sugerido ser parte do experimento (tendo por isso enlouquecido).
no galope determinado para sabe-se lá onde o louco divaga sobre o internamento do doce bicho.
não,não foi por estares constantemente com a cabeça enterrada na terra, isso só mostra a clara lucidez que tens. não querer ver a realidade demente é a maior sanidade que alguém pode possuir. a culpa é dessas tuas asas que não se abstraem, não se escondem, não passam despercebidas... e esse abanar e agitar constante perturba os conformados.. julgam ser inúteis essas asas, julgam que devias prescindir delas. eu não te julgo, eu vim só aproveitar o passeio fora daqueles portões. 

4 comentários:

  1. "não,não foi por estares constantemente com a cabeça enterrada na terra, isso só mostra a clara lucidez que tens. não querer ver a realidade demente é a maior sanidade que alguém pode possuir."

    Muito accurate. Gostei da metáfora que fazes entre o hábito da avestruz enterrar a cabeça na terra...... e dizerem que é por cobardia, mas na realidade, ser mais por esperteza. ;)

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    1. sim, tudo depende da forma como decidimos julgar ou até mesmo se queremos julgar e apontar. e é interessante tentares ver as coisas, aparentemente banais e não questionáveis, sobre diferentes perspetivas , trazendo-as metaforicamente para o nosso pensar tão particular.

      lê o animalescos, do Gonçalo M Tavares, a ideia das avestruzes surgiu lá :)

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  2. Acho curioso este assunto, até porque por vezes visto as tantas peles de loucura e avestruz ;). Real é a forma como tão globalmente apontamos o foco para a avestruz ou para o louco como se se trata-se de um caso de vida ou de morte aceitar o chip das igualdades... O nosso potencial está tão mais na singularidade das nossas reacções. Debato-me todos os dias com o saciar de vontades tão pouco exóticas que o meu melhor amigo vira o ignorante, o calado, o frio, o inconsequente, o feio, enfim as outras frentes de combate.

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    1. sem dúvida que o que importa é perceber e aceitar que cada um (re)age de forma particular e única. a dificuldade, por vezes, é descentrarmo-nos e ver isso com clareza e sem julgamento. mas todos sabemos que o ser humano é complexo, e esta é só mais uma das suas complexidades!

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