16 de fevereiro de 2015

racionalidade e limites

pensar envolve o campo do raciocínio, organização de conteúdos, memórias, sensações, sentimentos e tudo o que mais houver a pairar. no pensar está implícita a passagem do tempo. não é imediato, permite pesar, balançar, arrumar e desarrumar coisas, vezes sem conta. é interior. é o confronto mais próximo que temos com nós mesmos. não implica movimento visível (sendo, contudo, o movimento interior mais avassalador do que qualquer exteriorização do mesmo).
agir, embora possa ser um acontecimento paralelo ao pensar, não exclui a possibilidade do inesperado. é uma ação exterior, verbalizada, com movimento, onde tantas vezes o pensar se perde de vista. surgem, portanto, dois pólos - agir consequente ou inconsequentemente. e a inconsequência emerge quando se julga que não pensar é mais rápido e que podemos confiar (cegamente) no instinto.

no fundo, não é nada mais para além de uma questão de aprender a estipular os limites da racionalidade.

9 de fevereiro de 2015

conflitos meteorológicos d'O indivíduo

o dia era de sol, com aquele calor insuportável cuja permanência à sombra se torna obrigatória. mas ele não ligava a isso. trazia vestida uma camisola de lã azul a fazer pandam com a côr do céu daquele dia. junto ao pescoço espreitava uma camisa aos quadrados. mas não era a camisa da côr-do-céu-do-dia que saltava à atenção, muito menos as calças de ganga mais-do-que-gastas, o gorro e as botas pretas. trazia com ele um guarda-chuva-que-também-guarda-sol colorido, a assemelhar-se a um arco-íris. e eu, que me abrigava do sol,  olhava o indivíduo com estranheza.

ele sorria.

decidi vencer o sol.larguei a sombra. aproximei-me.questionei-o porque o fazia.
hoje acordei e senti-me num daqueles dias cinzentos, daqueles em que a chuva não é uma ameaça mas sim uma certeza irrevogável. fui até à janela e vi o sol brilhar, a brilhar tão intensamente que quase me ofuscou. entrei em conflito, como podia eu sentir-me chuvoso num dia-em-que-o-sol-ofusca?! fui ao armário e vesti a roupa mais quente que tinha. saí à rua de seguida, não sem antes agarrar o guarda-chuva-às-riscas. sim, guarda-chuva.. porque em dias de conflitos meteorológicos nada melhor do que poder ser um arco-íris, não achas?
não soube o que lhe responder.quando souber, voltaremos a trocar palavras.

5 de fevereiro de 2015

hospício de animais


o louco que não tem porque nem para onde fugir, torna-se também fugitivo. os altos e imponentes portões do hospício dos animais não parecem intimidá-lo - sai confiante, montando uma avestruz.
mas a história não é sobre o louco que foge sem razão aparente, a história é a da avestruz, que pouco se parece importar com a presença de um humano montando o seu corpo ou com a pouca ou muita confiança que este traz.

esta é a avestruz que foge com o único propósito de acasalar uma vez que no hospício  não são admitidas mais do que uma espécie de animais, tornando o acasalamento num experimento para criação de novas espécies. 
o louco que não tem porque nem para onde fugir parece perceber a vontade da avestruz, talvez porque ainda lhe reste discernimento para perceber a forma características como se movem as asas ou por já lhe ter sido sugerido ser parte do experimento (tendo por isso enlouquecido).
no galope determinado para sabe-se lá onde o louco divaga sobre o internamento do doce bicho.
não,não foi por estares constantemente com a cabeça enterrada na terra, isso só mostra a clara lucidez que tens. não querer ver a realidade demente é a maior sanidade que alguém pode possuir. a culpa é dessas tuas asas que não se abstraem, não se escondem, não passam despercebidas... e esse abanar e agitar constante perturba os conformados.. julgam ser inúteis essas asas, julgam que devias prescindir delas. eu não te julgo, eu vim só aproveitar o passeio fora daqueles portões. 

4 de fevereiro de 2015

(d)escrever vontades

pudesse o meu cérebro funcionar como uma impressora e imprimiria o exacto momento em que me apaixonei por ti.
tenho essa imagem guardada e tenho a certeza que prevalecerá indeterminadamente na minha memória, no entanto, gostava de a poder imprimir e emoldurar, para que todos, sem exceção, a pudessem apreciar.
sei o segundo exacto em que aconteceu, sei a forma como me olhavas e a forma como passei a olhar-te. bastou um milésimo de segundo para uma mudança drástica de perspectiva... é inegável que isto das histórias de amor tem um q de mágico.
mas como o cérebro humano ainda não desenvolveu essa capacidade e tendo em conta que jamais me passou pela cabeça fotografar o momento, pois estava demasiado imersa nele para recorrer ao uso de qualquer outro instrumento, escrevo a vontade que tenho.


é, escrever e descrever vontades nunca foi tarefa fácil, parece-me até uma missão impossível.

fica a tentativa.