24 de outubro de 2016

fora de tempo

que horas são?
a.     (de einsten): uma ilusão. a distinção entre passado, presente e futuro não passa de uma firme e persistente ilusão.
b.    horas de saíres da cama
c.    um quarto para o meio dia
d.   espera aí, deixa-me olhar para a sombra
e.    onze e quarenta e cinco
f.     chegaste mesmo a horas
g.   não tenho relógio
h.   horas para estares calado
i.     não temos tempo para isso
j.     meio dia menos um quarto 
k.    11h45m11s
l.     menos uma hora nos açores
m.  estou sem pilhas
n.   tenho o telemóvel descarregado
o.    mais 9 horas no Japão
p.    horas de ires embora, fecha a porta
q.   horas de comprares um relógio
r.     é quase meio dia
s.    faltam treze minutos para o assalto
t.     cinco minutos desde a última vez
u.   horas de apanhar o metro
v.    11:45:57
w.   sabes que o tempo nunca importou
x.    trinta  e três segundos para a explosão
y.    não tenho tempo para acompanhar as horas, tenho mais em que pensar
z.    a imaginação não usa relógio

21 de outubro de 2016

sob aviso

procura-se um sociopata que domina todos os trilhos das florestas do norte, discute-se o orçamento de estado, o sumo de pêssego apareceu e está num hospital psiquiátrico em londres, o iraque, aparentemente, já respondeu ao levantamento de imunidade diplomática,  há quem venda e quem compre certificados do 12º ano, a hillary e o trump encerraram os debates em vegas, baby, o alberto joão jardim começa a ser julgado e veja-se só, o marcelo até já existe em holograma. 65% dos portugueses têm défice de vitamina d. note-se que esta vitamina adquire-se no contacto com os raios solares. a folha começa a cair, o outono já chegou há algum tempo. a hora muda em breve e chega a hibernação humana. de outubro a dezembro as pessoas entram numa névoa estranha, ficam meio adormecidas, pachorrentas. quando o natal começa a bater à porta, algumas acordam, o coração pede o canto junto à lareira e o quentinho da família. os restantes entram em hipotermia sentimental até ao dia 31 de dezembro, onde acreditam que o próximo ano será diferente.
hoje lisboa está sob aviso amarelo, prevê-se chuva intensa. é melhor não lavar a roupa e sair poderá ser uma jogada arriscada, associar a chuva às obras de 30 praças e largos da cidade remete-me a um cenário catastrófico.
vou vestir o fato de treino e desligar a televisão.


18 de outubro de 2016

theo

18h, horário de verão que já se assemelha ao de inverno. o dia já está mais próximo de ser noite e, para perceber isso, basta espreitar o céu.
o vai vem das pessoas que saem do trabalho; das que procuram trabalho; das que vão às compras de última hora; das que, finalmente, vão às compras; das que só usam a avenida como isso mesmo, um caminho para chegar ao destino; e das outras, que se deixam ir, não importa bem onde.
theo destaca-se entre os demais. traz um conjunto de sacos do lixo púrpura nas mãos e, quanto mais pessoas tentam entrar na loja, mais sacos distribui.
hoje as palavras enrolam-se umas nas outras, são atropeladas e muitas nem se chegam a ouvir, porque se extraviam algures entre o cérebro, o coração e a boca.
talvez os repetitivos e frenéticos movimentos de desenrolar os sacos, procurar o picotado, aplicar a força certa para soltar um deles, encontrar uma mão recetiva ao presente, apontar para o chão e balbuciar, ainda não estejam mecanizados. imagine-se a tentativa de sintonizar uma qualquer estação de rádio não sabendo que a antena não está lá.


vais comprar? não vais comprar, apanha o lixo. olha aqui o lixo.. está aqui. poluição. sujos, estão sujos. vai comprar? não vais comprar