18h, horário de verão que já se assemelha ao de
inverno. o dia já está mais próximo de ser noite e, para perceber isso, basta
espreitar o céu.
o vai vem das pessoas que saem do trabalho; das que
procuram trabalho; das que vão às compras de última hora; das que, finalmente,
vão às compras; das que só usam a avenida como isso mesmo, um caminho para
chegar ao destino; e das outras, que se deixam ir, não importa bem onde.
theo destaca-se entre os demais. traz um conjunto de
sacos do lixo púrpura nas mãos e, quanto mais pessoas tentam entrar na loja,
mais sacos distribui.
hoje as palavras enrolam-se umas nas outras, são
atropeladas e muitas nem se chegam a ouvir, porque se extraviam algures entre o
cérebro, o coração e a boca.
talvez os repetitivos e frenéticos movimentos de
desenrolar os sacos, procurar o picotado, aplicar a força certa para soltar um deles,
encontrar uma mão recetiva ao presente, apontar para o chão e balbuciar, ainda
não estejam mecanizados. imagine-se a tentativa de sintonizar uma qualquer
estação de rádio não sabendo que a antena não está lá.
vais comprar? não vais comprar, apanha o lixo. olha aqui o lixo.. está aqui. poluição. sujos, estão sujos. vai comprar? não vais comprar
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