18 de outubro de 2016

theo

18h, horário de verão que já se assemelha ao de inverno. o dia já está mais próximo de ser noite e, para perceber isso, basta espreitar o céu.
o vai vem das pessoas que saem do trabalho; das que procuram trabalho; das que vão às compras de última hora; das que, finalmente, vão às compras; das que só usam a avenida como isso mesmo, um caminho para chegar ao destino; e das outras, que se deixam ir, não importa bem onde.
theo destaca-se entre os demais. traz um conjunto de sacos do lixo púrpura nas mãos e, quanto mais pessoas tentam entrar na loja, mais sacos distribui.
hoje as palavras enrolam-se umas nas outras, são atropeladas e muitas nem se chegam a ouvir, porque se extraviam algures entre o cérebro, o coração e a boca.
talvez os repetitivos e frenéticos movimentos de desenrolar os sacos, procurar o picotado, aplicar a força certa para soltar um deles, encontrar uma mão recetiva ao presente, apontar para o chão e balbuciar, ainda não estejam mecanizados. imagine-se a tentativa de sintonizar uma qualquer estação de rádio não sabendo que a antena não está lá.


vais comprar? não vais comprar, apanha o lixo. olha aqui o lixo.. está aqui. poluição. sujos, estão sujos. vai comprar? não vais comprar



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