1 de dezembro de 2012

(contra)tempo.


contratempo. deixo-me levar a cada nota tocada, sentindo-a como minha e parte de mim. deixo-me levar pela espera do regresso, que ainda não me pertence, mas que sentirei novamente como meu. o silêncio, ansioso. o silêncio, desejoso. o silêncio, desejado. a neutralidade nua e crua, despida de rótulos, despida de memórias. aqui, neste espaço onde usufruo enquanto espero, estou só eu, e as notas que faço questão de ter comigo.

11 de novembro de 2012

.



o comboio abranda, é o cais do sodré.
cheguei a lisboa,
mas não a uma conclusão.
(fp)

10 de novembro de 2012

um banco de jardim



um banco que espera que o acaso lhe traga vida. um banco que vive do que os outros lhe pedem. um banco que sempre espera e, quando mais do que um o conhece, em simultâneo, não lhes falha. um banco sempre com espaço para mais um. um banco que guarda segredos e conhece muito de muitos de vós. um banco sem voz, que vazio se sente desprotegido.

chegam eles, de mão dada e de corações quentes. regressam ao sítio que os uniu com o mesmo sorriso que ali esboçaram pela primeira vez. chegam eles e sentam-se. ela cruza as pernas à chinês e ele sorri, aconchegando-se. recordam memórias, falam de projectos futuros, apaixonam-se e desapaixonam-se vezes sem conta num único instante. a mão entrelaçada na outra é complementada pelo abraço apertado que faz parar o tempo. o nevoeiro desaparece deixando ficar a chuva em sua vez. um pingo, dois pingos, três, seis, mais sete pingos que caem intermitentemente. nem eles, nem o banco se apercebem… o tempo parou ali.um minuto, dois, três, cinco minutos… o tempo volta a ganhar vida e a roupa está molhada. levantam-se, viram costas e começam a andar.  não importa o que se passou nesse espaço de tempo, o mundo nem sempre é a casa deles....o mundo nem sempre é a nossa casa.

e o banco lá fica, pacientemente, esperando mais encontros e reencontros, neste ou em qualquer outro mundo.

1 de novembro de 2012

apurar.
aperfeiçoar.
aprimorar.
é a perfeição e a busca ininterrupta pelo seu alcance.
uma correria desmedida pela polidez máxima,
uma fugida a sete pés do sujo, do vulgar.
são os olhos que se fecham para coisas,
 demasiadas coisas.
são os horizontes que se estreitam muito,
e cada vez mais.
são barreiras que impomos,
são limites que estipulamos,
e não devíamos.



28 de outubro de 2012

1/2 cegueira

De resto, se uma cara tem duas metades
- uma bela, outra medrosa -,
os inimigos só vêem o medo
e os amantes, o belo.
São no fundo duas cegueiras
particulares,
especializações que surgem (espontâneas)
em certos instantes.

(in Uma Viagem à Índia, Canto I, estrofe 17; ed. Caminho

13 de outubro de 2012

o dia chegou ao fim

as luzes apagaram. o dia chegou ao fim.
- amanhã há mais.
mas, se o dia chegou ao fim, porque é que o peso dos dias passados me incomoda? se chegou ao fim, não volta à corrida. e, se decide voltar, é porque a teimosia lhe assiste. se calhar volta porque não conseguiu atingir o pódio e, para além da teimosia, também é persistente.
mas se não poderei voltar a viver as horas do dia de ontem, porque razão as horas de ontem se instalam no dia de hoje? e no de amanhã?  é um jogo desequilibrado.
o peso dos dias, o peso das horas, o peso das pessoas dos dias, o peso do peso que fica permanentemente em disputa pelo pódio. o peso dos dias passados que não permite que o dia de hoje se desiniba.
- sinto-me pesada. amanhã começo a dieta.

10 de outubro de 2012

"You become a writer because you need to become a writer - nothing else." Grace Paley

27 de setembro de 2012

a persistência dos pesos.

é pesado.as costas cedem à força sobre elas exercida, o passo diminui, a velocidade abranda. a meta final parece mais longe do que é, na realidade. 
é pesado. as costas começam a doer, as pernas param,a velocidade estanca.
transferiu o peso para o chão e sentou-se ao seu lado.
(sempre gostou da calçada, mesmo em dias de chuva)
as costas já não tinham o peso, mas a sensação continuava lá. 
tentou descansar mas não descansou. não conseguia deixar de olhar para o peso que suportava e que agora  ali estava, aparentemente imóvel e inofensivo, no seu lado direito.
aparentemente imóvel e inofensivo.. as aparências pressionam-nos, bloqueiam-nos.é, as aparências iludem-nos.
levantou-se e deixou o peso para trás. ao fim de uns quantos passos e metros percorridos, falta-lhe o ar, doem-lhe as costas e a velocidade abranda (novamente).
pesos que não nos deixam, mesmo quando os tentamos abandonar.
pelo menos persistência é uma coisa que não lhes falta. 


11 de setembro de 2012

.


to look life in the face, always, to look life in the face, and to know it for what it is...at last, to love it for what it is, and then to put it away.” virginia woolf

29 de agosto de 2012

entre a ausência e a distância há sempre uma dose de saudade.

a ausência é rude mas essencial.
a distância é cruel mas necessária.
a saudade é suicida e magoa.

temos a ausência sem a distância,
que dificilmente conseguimos gerir.
é o corpo presente onde os olhares não mais se cruzam,
onde os sorrisos não mais se partilham.
e ali está,
aparentemente à distância de um esticar de braço,
tudo aquilo que não mais alcançaremos.

temos a ausência com distância,
onde o mau estar se acentua prematuramente,
onde tudo aquilo que vemos não é nada mais do que uma miragem,
uma imagem distorcida do que um dia foi realidade.

temos a saudade,
infeliz saudade,
consequência da ausência,
consequência da distância.

temos a saudade,
que nada mais é para além de um buraco para onde atiramos tudo aquilo que nos faz falta.
um buraco alimentado de passado e de memórias.


temos a saudade,
onde se torna problemática a distinção entre um passado que alimentámos e não queremos viver,
e um passado que estupidamente deixámos morrer à fome e nada mais podemos fazer para inverter a catástrofe.





12 de agosto de 2012

opposite direction

as auto-estradas não me caem em graça. caminho monótono, velocidade excessiva que, ao mínimo momento distractivo, pode ter um final nada agradável. prefiro as curvas, seguidas de contracurvas, onde a atenção é indispensável, a velocidade é moderada e o sítio ao qual nos levam tem sempre mais interesse. 
no entanto, há dias em que queremos chegar o mais rápido possível ao sítio onde nos esperam. e nada melhor a fazer nesses dias, do que esquecer o carro e optar pelo avião (na direcção oposta).

22 de julho de 2012

economizador de impulsos

é muito mesquinho.
gosta dos livros no sítio certo, do chão sem migalhas, da roupa lavada e dos sítios do costume. não gosta de atrasos e não perdoa facilmente. se não gosta ou, se alguma coisa lhe faz comichão, não se cala. não tem um saco que possa encher, nem o copo que possa transbordar com aquela última gota de água. é um ser sem depósito de opiniões. um profeta dos seus pontos de vista.
não tenho papas-na-língua, não fazendo isso de mim má pessoa. não contesto quando não tenho razão. tudo bem que a minha razão só a mim me pertence mas, torna-se mais minha razão quando a faço ser a razão ou não-razão dos outros. não vou guardar para mim uma coisa que me pode pesar as costas, gosto de andar de mãos a abanar e de cabeça erguida. não quero com isto, passar o peso para os outros. mas, na real verdade, nunca fui bom economizador de impulsos. 

19 de julho de 2012

rés-do-chão a meia luz

lá na rua onde mora, a noite traz aventuras estranhas. da sua janela do rés-do-chão entreaberta, com a luz do candeeiro acesa, la está ele, todos os dias e à mesma hora a assistir a autênticos filmes de acção, comédias românticas e dramas. são os carros que passam, os carros que chegam mas não passam e param, os carros que se enchem de pessoas, os carros com os vidros abertos e os outros que nada deixam ver. para além dos carros, e das pessoas que os carros levam, estão outros cujo seu transporte nada mais é do que os próprios pés mas,de quando em quando, trazem um cão como bengala. às vezes vêm aos pares, outras não. às vezes falam quando estão sozinhos e mantêm o silêncio quando têm companhia.  
(e o que fará ele com a janela entreaberta?) ele observa, resolve o que para ele são enigmas e especula, especula muito.  é como uma pastilha elástica para o cérebro, mantém-no entretido. depois da recolha da informação,senta-se no seu sofá e, mantendo a meia luz, transforma as suas fantasias em letras, escritas uma a uma, descrevendo detalhadamente tudo o que a noite no rés-do-chão, de janela entreaberta e sala a meia luz, o permitiu ver. no final bebe um copo com leite,escova os dentes e vai dormir. na verdade, é um rés-do-chão como qualquer outro, mas há dias em que a imaginação precisa do estímulo certo. o dele é a noite e o movimento da sua rua. já o da vizinha do lado, é ver a telenovela. e o do 4º andar, ó (!), o do 4º andar é  louco, diz o homem do copo de leite. nem bom dia, nem boa tarde, nem boa noite e a janela para este lado da rua?! nem sabes.. está sempre fechada. 

13 de julho de 2012

ironia.


 a vida é irónica,não a consigo ver de outra forma. já não se trocam apenas as roupas, nem os lençóis de cama,agora invertem-se papéis com tanta ou mais frequência do que a própria troca de roupa. num instante remoto somos papel principal passando, quase que em simultâneo, para figurante de cena. somos ‘o todo, num instante’, efémero. deambulamos de um lado para o outro, com rumo incerto mas, ainda assim, convencidos de que aquele é o caminho que queremos cruzar. somos camaleões sorrateiros, por vezes destemidos, quando nos tentamos camuflar no absurdo, cativados pela curiosidade alheia, pelo risco,pela troca de papéis. 
na verdade, cada um de nós descreve o seu filme enquanto personagem principal, o problema, ou a agradável surpresa, é quando assumimos presença no filme de outros. são muitos caminhos que se cruzam e ainda mais aqueles cujo caminho se deveria conjugar de outra forma. são caminhos que seguem juntos para sempre e outros que seguem rumos diferentes. são caminhos intermitentes. são caminhos de terra, caminhos com calçada portuguesa, são caminhos que se cruzam em dias de chuva e de sol. são atalhos. caminhos, todos eles responsáveis pelo filme de cada um de nós.
 o meu filme é diferente, sinto-me a narradora de todos os caminhos que comigo se cruzam, tendo a particularidade de ter uma visão global, tornando cada um dos meus passos muito mais meticulosos. 
às vezes gosto do meu filme, noutras vezes tenho vontade de mudar o guião.

9 de julho de 2012

mas o que ele queria mesmo

era já noite cerrada e o sono tardava em chegar. a cama, há muito desfeita pela tamanha agitação, parece tudo menos um sítio tranquilo para dormir. fechou os olhos mais uma vez, esperançoso de que seria desta que o sono o apaziguaria. contou de 0 a 100 e de 100 a 0 - efeito nulo. voltou a ver as horas, mais vinte minutos se tinham passado, já estava mais perto o dia do que a noite.
- não quero pensar em nada (pensou ele). ora bolas, ao pensar que não quero pensar em nada, estou a pensar.
mas o que ele queria mesmo era atingir o vazio completo da mente, distorcer tudo quanto sabe, sente, quer e pensa. tornar tudo isso numa névoa tão intensa que a própria curiosidade se intimidaria. mas o que ele queria mesmo era um blackout momentâneo, que o cérebro ficasse em transe temporário, onde nada estava permitido a entrar e nada haveria a sair. mas o que ele queria mesmo era fechar os olhos e não ver nada mais do que nada. já que meio mundo se farta de usar essa palavra em vão e, na mais pura das verdades, nunca fizeram verdadeiramente nada. mesmo quando da morte se trata, acreditam e defendem vivamente que o ciclo está longe de acabar ali. 
- o ser humano é mesmo melindroso. até para a simples ideia do fim da vida arranjam fugas alternativas.
 mas o que ele realmente queria era não fazer nada e só depois, de cabeça vazia, adormecer. nada disso aconteceu, muito pelo contrário, de tanto esgotar possibilidades e engendrar planos para que nada lhe passasse pela cabeça, o cansaço acabou por chegar. finalmente adormeceu mas, simultaneamente, o sonho chegou. não foi hoje que o vazio o alcançou.

28 de junho de 2012

'pensar é poder sobreviver mais tarde'

questiona-te. impõe o teu ponto de vista. não sejas arrogante e escuta os outros. 'se pensas, existes'.se pensas, sobrevives. se pensas, és útil. não sejas mais um, sê tu.. ser único e individual. sobe a montanha, ou sobrevoa o atlântico. faz o que tu quiseres, e sempre da melhor forma possível. descobre-te a toda a hora. olha para trás, olha para a frente, olha para baixo, olha para cima. só não deixes de olhar e, já agora, não te distraias quando olhas demasiado tempo para trás, isto porque podes correr o risco de tropeçar. mas se o quiseres fazer, és livre. há quem goste de cair, no chão podem sempre encontrar-se coisas novas. 

chegou o verão

cheira a verão quando procuro a sombra, feliz em saber que o sol está ali a um passo. cheira a verão quando nem a maior barbaridade consegue criar qualquer tipo de impacto em mim. cheira a verão quando as ideias se multiplicam e os jardins são a minha segunda casa. cheira a verão quando as noites são longas e quentes, e há espaço para filosofias e especulações. chegou o verão, e adoro o seu cheiro e boa companhia.

21 de junho de 2012

'acima de tudo, mantém a certeza'




- quero subir o monte...vem, vamos subir o monte.
- mas não há caminho possível, é demasiado arriscado.
- não há como falhar, eu quero subir o monte. se o quiseres tanto como eu não haverão obstáculos instransponíveis. se foi possível a construção das pirâmides no egipto, se foi possível a descoberta da lei da gravidade, se o impossível se tornou sempre possível, porque haverei eu de contrariar esta minha vontade? eu não vou falhar, eu não vou cair. eu vou subir o monte, mas não te quero comigo se todas essas dúvidas permanecerem. serás uma má influência, não quero energias desviantes.
- és louco. só podes estar louco. será o teu fim.
- o meu fim só chegará no dia em que me negar a fazer aquilo que mais quero, e hoje não é um bom dia para isso. podes voltar, voltarei para casa em breve.
(a subida começou com a certeza sobre as costas)

19 de junho de 2012

(sor)rio



personagem 1.
passo segue passo e lá vai ele, avistando o rio. o seu ar é de contemplação, mas não chego a perceber se é o rio que o cativa ou se são só os seus pensamentos que o levam a fixar o rio.
personagem 2.
vai acompanhada. o homem fala, fala muito, e ela sorri. sorri apenas. as mãos entrelaçadas irradiam felicidade. está encantada e tudo o que consegue fazer é sorrir enquanto escuta as palavras do homem. aqui é o rio que contempla a felicidade.
personagem 3.
desliza no pavimento sobre quatro pequenas rodas e uma tábua. é ágil e destemido. a velocidade não o intimida, ou então o capacete transmite-lhe confiança. é meio metro de gente e o rio nada lhe chama a atenção. o seu primeiro e único objectivo é terminar o passadiço sem atropelamentos nem quedas inesperadas.
personagem 4.
sentado num dos bancos, com um livro sobre as pernas cruzadas, a cabeça não deixa de estar curvada e o único movimento que existe é o folhear de páginas, coisa que faz a uma velocidade louca. o rio só pode dar-lhe a concentração necessária, pois nem as mil e uma pessoas que à sua frente passam o fazem levantar a cabeça.

entre as muitas outras personagens, lá estava eu. de fones no ouvido direito, enquanto o esquerdo captava outros estímulos. de caneta na mão direita e bloco sobre as pernas para, de quando em vez, ir tomando nota daquilo que me circundava.
são vidas, são muitas vidas e nenhuma delas iguais. e gigante é o desafio que tenho em tentar decifrá-las. (olha! um turista acabou de me fotografar, também farei parte da recordação dele, mesmo sem intenção, hum...é a vida!)


17 de junho de 2012

página de diário

ontem tive um dia cheio como um balão de hélio,bem cheio de ar, mas bem seguro na mão, não correndo o risco de voar por céus excessivamente desconhecidos. Houve espaço para nostalgia e até mesmo um pouco de saudades. depois disso, respirei cada uma das notas perfeitas do brad mehldau e, nunca satisfeita, rumei à fabrica do braço de prata, onde a música me continuou a preencher as medidas. cheguei a casa. (re)li o principezinho e só depois me deixei dormir. ontem voltei a sentir-me criança e, mesmo sabendo que estou num mundo repleto de guias e manuais de utilizador, com os quais jamais me familiarizarei, foi um dia feliz.
hoje há músicas do mundo seguindo-se o tributo ao sassetti, onde pessoas tão grandes quanto ele nos transmitirão a sua genialidade imortal. mas, antes disso, há um pôr-do-sol a agregar à minha colecção, sendo que este vem com música de fundo, o que o torna duplamente mágico.
 hoje não giro ao contrário do mundo, hoje é ele que gira ao contrário por mim.

13 de junho de 2012

o senhor breton e a entrevista

'um verso não tem currículo. isto é: parece-me que um verso, quando é forte e bom, vem sem nada atrás, sem percurso; surge do zero. é muito grande durante o instante em que existe nos nossos olhos e na nossa cabeça, e depois desaparece.'

gonçalo m. tavares - o senhor breton

10 de junho de 2012

dilema

a frequência nem sempre se torna hábito. ou então o hábito, distraído, esquece-se da frequência e sente tudo como se da primeira vez se tratasse. terá o hábito episódios amnésicos? ou a frequência é esquizofrénica e assume vários papéis, deixando o coitado hábito baralhado!? 

8 de junho de 2012

espaço sem tempo

houve espaço para o brilho dos meus olhos deixar de ser mais cintilante do que o sol. houve espaço preenchido de tempo, muito tempo, tempo vazio. houve espaço amplo, tão amplo que mais pessoas se sentiram livres de se aproximar. houve amor que de amor tinha muito pouco, e amor que não cabia em palavras. houve espaço num tempo longo e num amplo sítio onde, para além das pessoas que chegam e partem (e ao espaço retornam), cresce a certeza, não do mesmo espaço, nem do tempo passado. cresce a certeza de que não há espaço nem tempo que (me) limite.

5 de junho de 2012

para-raios

o esclarecimento da dúvida que em mim se coloca é tão óbvio que me enganou.demorei demasiado tempo à procura de respostas nos sítios mais complexos e escondidos da minha mente quando, na verdade, nada mais havia a procurar e concluir para além disto:
sou 2 em 1. sou um para-raios, em que a sua utilidade só é valorizada em dias de tempestade e, ainda assim, por ser totalmente eficaz, tem tendência a ser desvalorizado.

13 de maio de 2012

senhor valéry

é pequeno, tão pequeno que nem chega a incomodar. mas só o tamanho lhe permite a indiscrição. veste preto e usa chapéu. pensa demais e vive demasiado preocupado em achar os possíveis efeitos para cada causa. só há lado esquerdo, lado direito e o centro. se não é uma coisa é a outra com certeza, não há outra escolha. e quando o controlo lhe escapa, agravam-se as dúvidas, aumentam as questões e seguem-se as suposições. se há uma única verdade para infinitas mentiras, porque não é possível existirem tantas verdades quanto mentiras? ou até mesmo uma única mentira para inúmeras verdades? se usa um sapato preto no pé esquerdo e um sapato branco no pé direito e lhe dizem que estão trocados, passa a calçar o sapato preto no pé direito e o sapato branco no pé esquerdo. se ainda assim se atreverem a dizer-lhe que estão trocados, afirma serem loucos.
se os atletas terminassem a corrida todos em pontos diferentes, até poderiam vencer mas aprendiam a vencer sozinhos. vencer? porque quer valéry ser melhor do que os outros? perder? porque quer valéry ser pior do que os outros?
 a solução é o mundo ser um cubo, pois vertical ou horizontalmente seria sempre exactamente igual mas, como valéry não é um cubo, dorme sempre em pé (para não adormecer).


(inpired by: senhor valéry - gonçalo m. tavares)

12 de maio de 2012

b.s.

a tua música encheu e preencheu muitos dos meus devaneios. a tua música inspirou-me. a tua música já me acordou e, melhor que isso, já me fez adormecer. a tua música já me fez amar. a tua música já me acompanhou, quando mais ninguém teve esse privilégio. a tua música já me arrepiou. a tua música não a comparo a nada. a tua música deu-me azo a palavras novas e combinações inesperadas. a tua música é a tua música, sem espaço para mais. mas a tua partida...a tua partida não faz sentido. 
não pode fazer sentido.

5 de maio de 2012

com regresso previsto

sentei-me. e é sempre esta a sensação. mesmo com regresso previsto há o nervosismo que parece nascer do assento. 17h30. partes. e levas-me contigo. à hora certa, sem atrasos, sem falhas, salvo rara excepção. fico ainda mais inquieta e lembro-me do dia em que cheguei, para ficar. vejo a ponte, é sempre esta a primeira imagem que me surge aquando da memória da minha chegada. já não a vejo. deixei-te e, mesmo mesmo com regresso previsto, sinto sempre que a minha partida trará sempre arrependimento na ânsia de ter ficado algo por viver. a culpa é tua e dessa velocidade que dita a velocidade de ideias que me ocorrem, e quanto mais andas, mais me obrigas a ver e a absorver.

- bem, é hora de acalmar. 

ligo o ipod e nenhuma música se ajusta ao meu estado. opto por ignorar que a oiço. tento ler mas dou por mim a olhar pela janela e a divagar. surgem os se's, os porquê's, os quem sabe. 

- pára! não quero projectar, muito menos recordar. 

quando a autoridade quase atinge o meu cérebro a música parece aumentar o volume para o triplo. deixou de ser ignorada, sem autorização prévia. não mostro parte fraca. desligo o ipod. fecho o livro. tiro o som ao telemóvel. fecho os olhos. 

- sou mais forte do que tu. ouviste? mais forte.

de olhos fechados as letras começam a surgir. (que perseguição!) não as quero, agora não. fecho os olhos, agora com mais força ainda e penso em preto, preto, preto. (é isso o que quero ver)

- bolas! (surge o branco) tu sabes que sou anti-preto no branco. mas desde quando é que tens vontade própria?

desisto. agarro a mala. guardo o livro.abro o estojo. tiro a parker. fecho o estojo. agarro o caderno. fecho a mala e volto a pô-la no chão. pouso o caderno e a caneta no colo. olho lá para fora, como se fosse a última vez que o pudesse fazer. vou ao bolso. tiro o ipod. ligo o ipod. aleatória, música aleatória. abro o caderno. escrevo a data.

hoje é sobre ti que escrevo. 

- satisfeito?



- do you hate me?
- not yet.

2 de maio de 2012

sem ti





E de súbito desaba o silêncio.
É um silêncio sem ti,
Sem álamos,
Sem luas.

Só nas minhas mãos
ouço a música das tuas.




eugénio de andrade
poesia
coração do dia
fundação eugénio de andrade
2000

30 de abril de 2012

calculismo

o que te escrevi... o que te escrevi, tu não leste. o que te escrevi, com tudo o que tinha, tu não conheces (nem mesmo as entrelinhas). o que te escrevi guardo para mim pois, na verdade, a nossa história não segue o mesmo caminho. e mesmo que me quisesses ler e mesmo que te deixasse ler(-me), não faria(s) sentido, não te associarias a tal personagem, a tal trajecto. 
temos olhos diferentes e por muito igual e estática que seja a imagem, a interpretação que dali tiraremos será o mais oposta quanto possível. somos díspares, sempre o fomos. só deixámos de saber viver bem na diferença, pois os opostos apenas se atraem momentaneamente, em momentos efémeros de paixão. depois disso, começa a busca incessante pelas parecenças, pela tão aclamada cara-metade. somos eternos seres insatisfeitos, o que procuramos nunca é bem aquilo que encontramos. projectamos em demasia e a queda é certa, pode tardar mas é certa e absoluta. o que me assusta é que somos seres tão previsíveis que a queda existe somente e apenas com o propósito de nos voltarmos a levantar. levantamo-nos e orgulhamo-nos disso. somos seres tão previsíveis e medrosos que, por vezes, só nos deixamos cair depois de já termos alguém para nos levantar.

e é por isso que o te escrevi..que o que te escrevi tu não leste...porque se torna imperativo eu sentir que não sabes tanto quanto eu. 

22 de abril de 2012

Lisboa (menina e moça)


És pôr-do-sol em todo o lado e mais algum, todos diferentes e, ainda assim,todos igualmente mágicos. És bebidas frescas com uma excelente música de fundo. És a noite, sempre agitada. És o cheiro a sardinhas, a castanhas e a morangos frescos. És história em cada novo recanto onde me perco. És gigante nessa tua imponência. És cultura. És arte. És jazz. És fado. És multicultural. És de todo o mundo e és de ninguém. És as 4 paredes da casa para os sem-abrigo. És banco de jardim com um chocolate quente, em dias cinzentos. És aviões... E tantos quantos chegam, também partem. Mas estou certa de que todos aqueles que chegam, de que todos aqueles que voltam, se (re)apaixonam e te sentem nesse teu brilho único, nesses pormenores impressionantes.
Mas, mesmo debaixo desse teu tamanho encanto estás a mudar, e eu mudo contigo. Será que conseguirei desvendar-te todos os mistérios? Será essa tua constante mudança algum dia responsável pelo meu desencanto por ti? Existirá desencanto possível para contigo!?
Sei apenas que se o meu passado existe, serão apenas dois os motivos: trazer-me o presente e ajudar-me a crescer. Porque tu, Lisboa, és (como jamais outro sítio foi) a minha casa, onde o meu coração acalma e se procura, sem nunca ter conhecido a vontade de daqui querer partir.

17 de abril de 2012

utopia

tenho uns quantos 'não-lugares' cativos e gosto deles assim, nesta visão fantasiada e imaginária.

14 de abril de 2012

note to myself

o que é simples, é falso;
o que não é simples, é inutilizável.

memórias que ecoam no vazio.

foste embora. as folhas ficaram espalhadas pelo chão onde um dia nos amamos. dispersas,pisadas,maltratadas com a chuva que sobre elas caem. as letras começam a perder-se enquanto o tempo passa. a caneta com que te escrevia perde a tinta e o papel que agora uso não ganha forma, branco sobre branco com monótonas linhas cheias de nada. perdi a fluência. expulsei-te. o tempo passa. passa o tempo e o tempo dói.
chegam os outros, dispostos a fazer parte da minha história. chegam os outros, com o coração cheio e de braços abertos dispostos a aceitarem plenamente a minha loucura. chegam os outros e eu privo-lhes a entrada. chegam os outros e eu continuo a olhar para as folhas caídas no chão que agora se começam a desfazer. continuo a olhar para elas e penso que não há nada que me faça largar tudo e recomeçar.

8 de abril de 2012

end of the altruist tour

18 de março de 2012

palácio da pena

mistério.entre paisagens cobertas por esta névoa intensa, tudo se torna misterioso, escondido, questionável. e todas as questões sem respostas perdem relevância. somos imponentes, frágeis, tudo é volátil. não controlamos nada. esqueçamos o poder que julgamos ter. não o temos. é ilusão. pura ilusão. por muitas cartas que joguemos não temos controlo sobre nada, ninguém.
somos o cansaço dos dias que sempre passam sem que nada possamos fazer para o impedir. somos um caminho sem regresso, nem retrocesso. as nossas escolhas condicionam-nos, é certo, mas há mais para além disso. destino? karma? é demasiado querermos dar nome a algo que (tão bem) nos escapa ao controlo. somos o que construímos e pedaços do que destruímos.
e sintra, com o seu misterioso ar e encanto traz-me inquietude às palavras e reboliço aos sentimentos.
4/3/12 . 16:18

17 de março de 2012

Not While I'm Around

9 de março de 2012

crónicas do louco

"Há alturas, em que mundo gira em sentido contrário ao que as nossas pernas conhecem, querem e conseguem. O equilibrio perde-se e é no chão que encontrámos a posição mais confortável para assistirmos a tudo que gira à nossa volta.
No chão ficam os planos, os sonhos, o presente e o futuro. Ficam cabeça, corpo, alma e coração. Ficam memórias, histórias, momentos e lamentos. Fica o tudo que em nós existe, lado a lado com aquilo em que nos tornamos.

E o mundo gira, não pára. Pisa tudo que não o acompanha. Derruba tudo que tenta girar em sentido contrário. Passa por cima sem ver quem assiste do chão à sua passagem. E magoa.

Mas, um dia, chega uma altura que, de tanto observarmos, aprendemos a ter equilíbrio para acompanhar de forma certa o sentido e a velocidade a que o mundo gira. Sempre chega!

Quando esse dia chega, levantamo-nos de cabeça erguida, guardamos tudo o que sempre foi nosso, e corremos com toda a força e com toda a vontade de acompanhar todas as voltas. Podemos até ter medo de voltar a cair, mas se não fossem as quedas não nos saberíamos levantar!"


o rapaz do mundo 'não redondo'



2 de março de 2012

será que

será que estamos condenados a assistir impávidos ao desenrolar da vida? será que o destino é algo assim tão forte e inderrubável que não nos permite ter livre arbítrio nas nossas escolhas? será que as escolhas que fazemos já estão condicionadas àquelas respostas?
vamos sempre questionarmo-nos acerca da escolha mais ou menos acertada, do se e do porquê, vamos olhar sempre para trás quando o caminho é para a frente. porque o passado vai pesando nas costas, porque o presente é esquecido e vivemos ou a reviver ou a projectar. gostava de saber ser agora, sem antes nem depois, sem como, porquê nem senão. gostava que não houvessem razões ou que as razões não confundissem.

29 de fevereiro de 2012

não te esqueças

respira. não te esqueças de o fazer. e, por favor, tem cuidado com o ar que te circunda. afasta-te, se for preciso. mas respira. respira fundo. não te esqueças.
vive. não sobrevivas. e, por favor, trata de ser feliz. não te esqueças.
corre. não te esqueças de correr. no conhecido e no desconhecido. na novidade e na rotina. cansa-te. e liberta-te, por favor.
faz valer a pena,por favor. e se não valer a pena, não fiques, mas respira. não te limites a sobreviver e corre. procura. insiste. resiste.

26 de fevereiro de 2012

lembrete

nada abala mais a minha sanidade do que eu mesma.

23 de fevereiro de 2012

- mas é por ti?
- não, é porque é o melhor.
- mas se não é por ti, como pode ser melhor?
- porque há algo mais importante e que se sobrepõe a mim.
- desculpa, mas isso não é possível. se não te pões em primeiro plano nunca te respeitarás, como esperas então que te respeitem?

22 de fevereiro de 2012

rock-paper-scissors

vivemos na certeza errada de que tudo declina.é certo que os verbos se tornam sempre passado. que o saber tem sempre fome. que o conhecer abraça a curiosidade.e que o adeus arrasta a saudade. vivemos numa roda-viva onde o papel-tesoura-pedra dita o momento que segue, enquanto um ou outro dado é lançado na sorte esperançada da saída d'um 6 para cortarmos caminho. somos seres inquietos e ansiosos onde, num abrir e fechar de olhos, damos um passo maior do que as próprias pernas. ponderação? é um termo esquecido e menosprezado.vivemos na certeza errada de que tudo declina mas não há desculpa ponderável enquanto a cara-ou-coroa for ditadura.

19 de fevereiro de 2012

letras soltas e frases curtas

letras conjugadas na esperança de encontrar a combinação perfeita de palavras que descrevem o que em mim trago. vestígios de pessoas e momentos. rascunhos do que sou ou do que pretendo alcançar. não escrevo versos perfeitos nem sou constante. sou letras soltas e frases curtas. reflexos, as letras que escrevo são apenas reflexos de mim. não me definem. se me lês, não me conheces. conheces a minha sombra, porque os detalhes não os quero mostrar. não os sei mostrar. não me tentes definir pelo que lês, nem pelo que de mim mostro. sou mais que isso. uma equação sem fórmula, um livro sem letras maiúsculas. pedaços do mundo. os sons das teclas em que escrevo são a minha melodia, sempre diferente, ora reticente, ora violenta e imparável. e quando escreve, ó.. quando escrevo não sei do que falo. não sei se são os meus medos, não sei se são os meus sonhos, não sei se são os meus desejos. juro, eu não sei.quando escrevo, sei que me liberto.e tu, tu que me lês, não te prendas àquilo que liberto e que eu própria desconheço,na vontade de me conhecer.
 sair-te-á o tiro pela colatra.

18 de fevereiro de 2012

.

pus-me preso às minhas ordens
pra não me perder de mim.
josé de almada negreiros

15 de fevereiro de 2012

um corpo partido

um copo partido, vidros espalhados pelo chão. a minha mão sangra, só o golpe faz com que o coração bombeie sangue mais intensamente. nada sou para além de vazio. tenho saudades. tenho saudades de ser a loucura que apelida o amor. quem me fechou nesta bolha? como posso sair dela? quero viver. só quero viver e sentir cada palpitar do meu coração como meu impulsionador. só assim me conheci em estado pleno de felicidade. não gosto de sombra nem de ser feliz sozinha. quero partilha. quero adormeceres apaixonados e acordares aconchegantes. quero a chuva que perde relevância se a minha mão estiver entrelaçada numa outra. quero o pôr-so-sol que se esmurece enquanto o coração engrandece. onde está o reset para medos absurdos? onde andas tu, cara-metade? cá vagueio enquanto hesitas chegar. não tenho pressa, mas estou ansiosa. tenho o mundo à cabeceira, disposto a ser partilhado. só tens de me encantar e assolapar. traz contigo as borboletas no estômago e a diferença do banal. traz a rebeldia e a assertividade na hora certa. traz ouvidos atentos e sinceridade. traz amor, traz desejo. não precisas de trazer promessas vãs porque especulações e expectativas não são o meu forte. só te quero tanto para mim quanto serei para ti.
um copo partido, vidros no chão e é desta.. não quero a mesma canção.

13 de fevereiro de 2012

vasculhando

Vou começar, mas não no início! Vou começar atrás daquilo que se espera. Um começo sem expectativas, desejos, sonhos nem imposições. Um começo deambulante e incerto, capaz de surpreender e de ser surpreendido. Um começo interdito a desilusões, pois nada há previsto. Um simples começo.. sem partida nem chegada.


Quando chegares, serás bem recebido! Aqui te espero, no princípio do meu fim
30 maio 2008

9 de fevereiro de 2012

"In individuals, insanity is rare; but in groups, parties, nations and epochs, it is the rule."


— Friedrich Nietzsche

26 de janeiro de 2012

23 de janeiro de 2012

if i just lay here would you lie with me and just forget the world?

22 de janeiro de 2012

note II

as tréguas são como um abismo.

21 de janeiro de 2012

sou eu


sou eu. complicada, difícil, indecifrável. tão ausente quanto presente. tão certa quanto incerta. sou um dia de sol e dias cinzentos. sonhadora e descrente em constante luta. gosto de ser cabeça nas nuvens e de tropeçar enquanto caminho, certificando-me que o caminho é em frente, por mim (mesmo que sem mim), sempre sem ti. sou eu. com os meus encontros e desencontros. sou segredo, ciumento e medroso que se esconde em mim enquanto de ti foge.
Um Segredo. sou eu. apenas eu.

15 de janeiro de 2012

note

Don't make decisions when you're angry.
Don't make promises when you're happy.

4 de janeiro de 2012

.

fraqueza. luta. força. dignidade. cabeça erguida. vida. conhecimento. alegria. tristeza. raiva. desilusão. compaixão. ódio. medo. coragem. falhar. chegar mais longe. vencer. turbilhão. sobrevivência. orgulho. 

são histórias.