13 de maio de 2012

senhor valéry

é pequeno, tão pequeno que nem chega a incomodar. mas só o tamanho lhe permite a indiscrição. veste preto e usa chapéu. pensa demais e vive demasiado preocupado em achar os possíveis efeitos para cada causa. só há lado esquerdo, lado direito e o centro. se não é uma coisa é a outra com certeza, não há outra escolha. e quando o controlo lhe escapa, agravam-se as dúvidas, aumentam as questões e seguem-se as suposições. se há uma única verdade para infinitas mentiras, porque não é possível existirem tantas verdades quanto mentiras? ou até mesmo uma única mentira para inúmeras verdades? se usa um sapato preto no pé esquerdo e um sapato branco no pé direito e lhe dizem que estão trocados, passa a calçar o sapato preto no pé direito e o sapato branco no pé esquerdo. se ainda assim se atreverem a dizer-lhe que estão trocados, afirma serem loucos.
se os atletas terminassem a corrida todos em pontos diferentes, até poderiam vencer mas aprendiam a vencer sozinhos. vencer? porque quer valéry ser melhor do que os outros? perder? porque quer valéry ser pior do que os outros?
 a solução é o mundo ser um cubo, pois vertical ou horizontalmente seria sempre exactamente igual mas, como valéry não é um cubo, dorme sempre em pé (para não adormecer).


(inpired by: senhor valéry - gonçalo m. tavares)

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