13 de maio de 2014

histórias d'O indivíduo

são 4 belas paredes onde o vazio se torna imperativo. branco sobre branco, onde a única prova que o homem la coabitou é o chão sujo. o ser humano é imundo e prova disso é que tudo em que toca, ora destrói, ora distorce, ora corrompe. o chão estava sujo e as paredes davam a sensação de que se entrava num novo mundo.
o que pensa estar a ver não é o que na realidade os outros vêem. está em entre quatro paredes e o chão sujo. o tecto? não existe, é a céu aberto. como poderão as paredes sobreviver à chuva? ao sol? se te digo que o que eu vejo os outros não alcançam, digo verdade. e se te digo isso a ti, é só porque sei que chegará o dia em que verás o mesmo que eu vejo. louco? não sou louco, louco é o mundo que nós reconstruímos. estas quatro paredes são a prova. nada lhes faço após a indecência  humana de as construir. dei-lhes luz, dei-lhes luares, dei-lhes água, e até mesmo um pouco de nevoeiro, para que se pudessem abstrair da existência de três réplicas. estas quatro paredes surgiram sem que a sua voz fosse ouvida, são o fruto de uma noite de sexo fugaz e irracional, cujo amor tirou folga, mas a sua concepção não. são o resultado da inconsciência e grande insensibilidade do ser humano, que nada mais quer para além de conservar o seu umbigo. estas quatro paredes são, agora, amadas e tratadas. adoptei-as, sem burocracias e avaliações de nada nem ninguém, pois não deixei espaço para coisas inútes. como pode alguém decidir o que devo ou não devo adquirir se tudo aquilo que pisamos não nos pertence?  pois bem, estou só a jogar o vosso jogo. estas quatro paredes são minhas, e se achas que o tecto está sobre elas, estás enganada. e se achas que o chão está sujo, estás certa. sujaste-o à entrada.

não vou sair. aqui tenho tudo aquilo que quero e protejo-me de tudo aquilo que me enoja. a minha imaginação, as minhas quatro paredes, e o pedaço de céu que acidentalmente coincide com o meu ângulo de visão. é tudo o que preciso e somente aquilo que quero que me acompanhe. o chão é uma consequência. 

pudesse eu levitar.

6 de maio de 2014

equilíbrio demente

tropeçar nos vazios que se julgam arrumados e esquecidos.
mas um vazio não se arruma, muito menos faz tropeçar.
tropeçar na vontade de preencher o vazio que persistentemente paira sobre os sítios, sempre desacertados.
poderá tratar-se de uma sobrelotação de determinados lugares sobre a escassez de outros, ou então são as vontades que escolhem lugares de primeira classe, negando-se ao desconforto e à solidão, e logo se apinham, umas sobre as outras, tornando o discernimento inexequível – todas no mesmo saco.

dos vazios sabe-se que são desprivilegiados e insensatos e das vontades que são demasiado comodistas. e é ser metade vontade que extravasa e metade um vazio que nunca se completa – o aclamado equilíbrio demente das coisas.