19 de julho de 2012

rés-do-chão a meia luz

lá na rua onde mora, a noite traz aventuras estranhas. da sua janela do rés-do-chão entreaberta, com a luz do candeeiro acesa, la está ele, todos os dias e à mesma hora a assistir a autênticos filmes de acção, comédias românticas e dramas. são os carros que passam, os carros que chegam mas não passam e param, os carros que se enchem de pessoas, os carros com os vidros abertos e os outros que nada deixam ver. para além dos carros, e das pessoas que os carros levam, estão outros cujo seu transporte nada mais é do que os próprios pés mas,de quando em quando, trazem um cão como bengala. às vezes vêm aos pares, outras não. às vezes falam quando estão sozinhos e mantêm o silêncio quando têm companhia.  
(e o que fará ele com a janela entreaberta?) ele observa, resolve o que para ele são enigmas e especula, especula muito.  é como uma pastilha elástica para o cérebro, mantém-no entretido. depois da recolha da informação,senta-se no seu sofá e, mantendo a meia luz, transforma as suas fantasias em letras, escritas uma a uma, descrevendo detalhadamente tudo o que a noite no rés-do-chão, de janela entreaberta e sala a meia luz, o permitiu ver. no final bebe um copo com leite,escova os dentes e vai dormir. na verdade, é um rés-do-chão como qualquer outro, mas há dias em que a imaginação precisa do estímulo certo. o dele é a noite e o movimento da sua rua. já o da vizinha do lado, é ver a telenovela. e o do 4º andar, ó (!), o do 4º andar é  louco, diz o homem do copo de leite. nem bom dia, nem boa tarde, nem boa noite e a janela para este lado da rua?! nem sabes.. está sempre fechada. 

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