9 de julho de 2012

mas o que ele queria mesmo

era já noite cerrada e o sono tardava em chegar. a cama, há muito desfeita pela tamanha agitação, parece tudo menos um sítio tranquilo para dormir. fechou os olhos mais uma vez, esperançoso de que seria desta que o sono o apaziguaria. contou de 0 a 100 e de 100 a 0 - efeito nulo. voltou a ver as horas, mais vinte minutos se tinham passado, já estava mais perto o dia do que a noite.
- não quero pensar em nada (pensou ele). ora bolas, ao pensar que não quero pensar em nada, estou a pensar.
mas o que ele queria mesmo era atingir o vazio completo da mente, distorcer tudo quanto sabe, sente, quer e pensa. tornar tudo isso numa névoa tão intensa que a própria curiosidade se intimidaria. mas o que ele queria mesmo era um blackout momentâneo, que o cérebro ficasse em transe temporário, onde nada estava permitido a entrar e nada haveria a sair. mas o que ele queria mesmo era fechar os olhos e não ver nada mais do que nada. já que meio mundo se farta de usar essa palavra em vão e, na mais pura das verdades, nunca fizeram verdadeiramente nada. mesmo quando da morte se trata, acreditam e defendem vivamente que o ciclo está longe de acabar ali. 
- o ser humano é mesmo melindroso. até para a simples ideia do fim da vida arranjam fugas alternativas.
 mas o que ele realmente queria era não fazer nada e só depois, de cabeça vazia, adormecer. nada disso aconteceu, muito pelo contrário, de tanto esgotar possibilidades e engendrar planos para que nada lhe passasse pela cabeça, o cansaço acabou por chegar. finalmente adormeceu mas, simultaneamente, o sonho chegou. não foi hoje que o vazio o alcançou.

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