pensemos na vida como uma melodia. o homem não pode ter uma
melodia exata mas quem o queira e tente, rapidamente se aperceberá da monotonia
de tamanha exatidão e do vasto mundo que está a perder. o homem é feito de
canções, de mudanças bruscas de grupo musical ou, para os mais conformados, de
uma grande panóplia de possibilidades dentro de um mesmo estilo.
sou uma jukebox. em dias de sol o jazz e as vozes femininas
movem-me, já nos dias de chuva rendo-me ao indie. em dias de festa sou música
popular e até mesmo um pouco de pop. agora, se me pedissem para me render a uma
única e repetida melodia, o pedido seria negado. fechar horizontes equivale a
uma cegueira consciente e voluntária. fechar horizontes indica a perda de tudo
o que nos negamos a ver, ser, ouvir e sentir. fechar horizontes traz perdas
incontornáveis aleadas à ignorância.
voltando à música, aliás, voltando ao homem, vão sempre
existir músicas que, por muita persistência que tenhamos, não entrarão no
ouvido, muito menos serão do nosso agrado, mas só o saberemos se conhecermos,
se estivermos dispostos a conhecer e a educar o nosso ouvido. a isso chama-se
arriscar, percorrer caminhos novos, sejam eles de terra batida ou de calçada
portuguesa. sejam eles estradas longas e retas ou uma subida íngreme, seguida
de curvas e contracurvas. para a frente é o caminho, a estagnação traz inércia,
e a inércia traz o risco de nos perdermos de nós mesmos.
o homem que arrisca segue instintos, intuições, muda a cor
do cabelo e sabe remediar. o homem que arrisca é a música que improvisa no
contratempo. o homem que não arrisca é o conformado, que perde o que se nega a
conhecer, que vive no seu mundo aleando-se dos outros e afastando-se dos
demais. o homem que não arrisca é a música não curiosa com um simples ritmo que
não passa de um compasso de quatro tempos.
é uma balança claramente descompensada a da música ditada
pelo risco.
sejam bravos e dancem!
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