reticências, é isso! todas as histórias de amor deviam
incluir reticências no título. não vou ser tão exigente assim. todas as
histórias de amor deviam incluir reticências ou no título ou na sinopse ou no
prefácio. num deles deveria ser indispensável, sujeito a coima para os
insubordinados. porque o amor é isso…uma eterna reticência e o que estão a
fazer é publicidade enganosa, meus caros.
começamos com uma corrida louca para descobrir o que é isso
do amor que toda a gente fala, para sentir o amor que toda a gente afirma
sentir. e lá vamos nós (sim, todos nós) correndo incessantemente até que o
primeiro sinal nos faz travar sem olhar para o que vem atrás. como não temos
termo de comparação, lá ficamos temporariamente iludidos julgando ter
encontrado o sacana do amor, achando que a eureka se fez bem cedo e quase a
custo zero.
depois disso, tudo depende do prazo de validade: uns
iludem-se mais tempo do que outros, dependendo do tipo de alimento a que se
associem (se for um queijo fresco e uma lata de conserva, fácil será descobrir
quem se apercebe do equívoco primeiro).
os queijos frescos, pobres coitados, recomeçam de imediato a
busca, agora um pouco mais debilitados, mas não tarda juntam-se à corrida as
conservas, igualmente abatidas. é… o falso amor atenua a procura.
entre um e outro falso alarme, vão-se descobrindo novas
formas de desamor. umas vezes chegamos quase a crer que o amor é aquilo, outras
nem tanto.
pois é, não querendo generalizar, mas generalizando, chega sempre
uma altura da vida em que, mesmo quando se sabe perfeitamente que aquilo que
temos com um ou outro queijo fresco (ou até mesmo com a sardinha em lata), não é o
amor sem reticências, fingimos que sim, por comodismo. o que é compreensível,
pois passar uma vida a correr, 365 dias por ano, todos os anos da nossa vida, é
difícil… não há quem aguente.
por tudo isso e muito mais, meus amigos, não se esqueçam de
mudar as sinopses, os prefácios e os títulos. ficaremos todos imensamente
agradecidos e com menos expectativas em relação a esse extravagante, caprichoso e hesitante amor.
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