29 de novembro de 2013

imobilidade aos olhos do mundo

os raios de sol ainda espreitavam timidamente pela janela, querendo certamente passar despercebidos. os meus olhos ainda se queriam manter fechados, ao contrário de todo o meu organismo que desejava encarar o dia. o frio contrariou todas a tentativas de movimentos que não se assemelhassem a um slow motion, sem que fosse sequer necessária a desaceleração da imagem. permaneci imóvel aos olhos do mundo e numa inquietude intensíssima aos meus.
sentir cada movimento microscópico que somos capazes de fazer absorve-me. absorve-me todas as atenções,ao contrário da destreza extrema e veloz de movimentos que, embora fascinantes, ignoram o caminho. 
um estalar de dedos: o polegar e o dedo médio que se encontram na parte interior da mão,o indicador que, com subtileza, se afasta de forma a não incomodar o processo. o mindinho e o anelar que se encostam à palma da mão, enquanto os protagonistas se unem como que um braço de ferro. cada um empurra para o seu lado,para lados opostos, no entanto, e ao contrário das forças que se opõem num braço de ferro, o estalar de dedos precisa desta mesma oposição, deste um-contra-um, para que o som aconteça. 
o espirrar: uma forma irreverente do teu corpo expulsar o dióxido de carbono em excesso. expulsão do ar que, não só tem vontade própria, como implica um encadeamento sequencial de reflexos.a irritação do nariz, inspirar, a epiglote e as cordas vocais que se fecham, a contracção do abdominal e a pressão do diafragma, a epiglote e as cordas vocais que abrem rapidamente, as pálpebras que se fecham e finalmente atchim, atchim, atchim.
a imobilidade aos olhos do mundo perde-se ao primeiro estalar de dedos, ao primeiro espirro...já o processo que levou a esse estalar de dedos e ao primeiro, segundo e terceiro espirro é tão rápido que poucas são as pessoas que o conseguem ver, que o querem ver.

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