os raios de sol ainda espreitavam timidamente pela janela, querendo certamente passar despercebidos. os meus olhos ainda se queriam manter fechados, ao contrário de todo o meu organismo que desejava encarar o dia. o frio contrariou todas a tentativas de movimentos que não se assemelhassem a um slow motion, sem que fosse sequer necessária a desaceleração da imagem. permaneci imóvel aos olhos do mundo e numa inquietude intensíssima aos meus.
sentir cada movimento microscópico que somos capazes de fazer absorve-me. absorve-me todas as atenções,ao contrário da destreza extrema e veloz de movimentos que, embora fascinantes, ignoram o caminho.
um estalar de dedos: o polegar e o dedo médio que se encontram na parte interior da mão,o indicador que, com subtileza, se afasta de forma a não incomodar o processo. o mindinho e o anelar que se encostam à palma da mão, enquanto os protagonistas se unem como que um braço de ferro. cada um empurra para o seu lado,para lados opostos, no entanto, e ao contrário das forças que se opõem num braço de ferro, o estalar de dedos precisa desta mesma oposição, deste um-contra-um, para que o som aconteça.
o espirrar: uma forma irreverente do teu corpo expulsar o dióxido de carbono em excesso. expulsão do ar que, não só tem vontade própria, como implica um encadeamento sequencial de reflexos.a irritação do nariz, inspirar, a epiglote e as cordas vocais que se fecham, a contracção do abdominal e a pressão do diafragma, a epiglote e as cordas vocais que abrem rapidamente, as pálpebras que se fecham e finalmente atchim, atchim, atchim.
a imobilidade aos olhos do mundo perde-se ao primeiro estalar de dedos, ao primeiro espirro...já o processo que levou a esse estalar de dedos e ao primeiro, segundo e terceiro espirro é tão rápido que poucas são as pessoas que o conseguem ver, que o querem ver.
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