são 4 belas paredes onde o vazio se torna
imperativo. branco sobre branco, onde a única prova que o homem la coabitou é o
chão sujo. o ser humano é imundo e prova disso é que tudo em que toca, ora
destrói, ora distorce, ora corrompe. o chão estava sujo e as paredes davam a
sensação de que se entrava num novo mundo.
o que pensa estar a ver não é o que na
realidade os outros vêem. está em entre quatro paredes e o chão sujo. o tecto?
não existe, é a céu aberto. como poderão as paredes sobreviver à chuva? ao sol?
se te digo que o que eu vejo os outros não alcançam, digo verdade. e se te digo
isso a ti, é só porque sei que chegará o dia em que verás o mesmo que eu vejo.
louco? não sou louco, louco é o mundo que nós reconstruímos. estas quatro
paredes são a prova. nada lhes faço após a indecência humana
de as construir. dei-lhes luz, dei-lhes luares, dei-lhes água, e até mesmo um
pouco de nevoeiro, para que se pudessem abstrair da existência de três
réplicas. estas quatro paredes surgiram sem que a sua voz fosse ouvida, são o
fruto de uma noite de sexo fugaz e irracional, cujo amor tirou folga, mas a sua
concepção não. são o resultado da inconsciência e grande insensibilidade do ser
humano, que nada mais quer para além de conservar o seu umbigo. estas quatro
paredes são, agora, amadas e tratadas. adoptei-as, sem burocracias e avaliações
de nada nem ninguém, pois não deixei espaço para coisas inútes. como pode
alguém decidir o que devo ou não devo adquirir se tudo aquilo que pisamos não
nos pertence? pois bem, estou só a jogar o vosso jogo. estas quatro
paredes são minhas, e se achas que o tecto está sobre elas, estás enganada. e
se achas que o chão está sujo, estás certa. sujaste-o à entrada.
não vou sair. aqui tenho tudo aquilo que
quero e protejo-me de tudo aquilo que me enoja. a minha imaginação, as minhas
quatro paredes, e o pedaço de céu que acidentalmente coincide com o meu ângulo
de visão. é tudo o que preciso e somente aquilo que quero que me acompanhe. o
chão é uma consequência.
pudesse eu levitar.