16 de março de 2014

dessincronização voluntária

e, por momentos, tudo é rápido.
o tempo corre, como se o atraso para o segundo seguinte fosse uma constante.
as viagens deixam de ser viagens e passam a ser momentos breves de cegueira que te levam a algum lado, evitando atrasos maiores.
pouco importa o que o comboio te mostra, a velocidade cega-te, torna-te menos curioso. 
não importa o caminho,o que queres é chegar. 

o perigo, na tua cabeça, só existe quando uma avaria inesperada surge e a linha recta, que te leva ao destino final, fica interrompida durante algum tempo. aí sim, és obrigado a recuperar a visão periférica e a observar o que te circunda, pois o atraso será realmente significativo na tua singular perspectiva de tempo. no entanto, nada podes fazer, nada podes mudar e, pouco depois,conformas-te... nada podes fazer para além de esperar que o tempo se sincronize. 
não importa a causa, mas sim o inconveniente causado. 
voltas ao teu lugar, sim, inconcebível é sentares-te num lugar não correspondente ao que o teu bilhete te deu - uma lotaria em pequena escala -  lugar 113, caruagem 22. podes até ser a única pessoa no comboio, todos os lugares da carruagem podem estar vazios, mas jamais te sentarás na cadeira ao lado. 

somos cegos, a visão periférica está a desaparecer e poucos se questionam, é confortável viver conformado. e os conformados parecem gostar das duas palas invisíveis que deturpam o tempo e o espaço. 
fotografia: laura williams

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