o tempo corre, como se o atraso para o segundo seguinte fosse uma constante.
as viagens deixam de ser viagens e passam a ser momentos breves de cegueira que te levam a algum lado, evitando atrasos maiores.
pouco importa o que o comboio te mostra, a velocidade cega-te, torna-te menos curioso.
não importa o caminho,o que queres é chegar.
o perigo, na tua cabeça, só existe quando uma avaria inesperada surge e a linha recta, que te leva ao destino final, fica interrompida durante algum tempo. aí sim, és obrigado a recuperar a visão periférica e a observar o que te circunda, pois o atraso será realmente significativo na tua singular perspectiva de tempo. no entanto, nada podes fazer, nada podes mudar e, pouco depois,conformas-te... nada podes fazer para além de esperar que o tempo se sincronize.
não importa a causa, mas sim o inconveniente causado.
voltas ao teu lugar, sim, inconcebível é sentares-te num lugar não correspondente ao que o teu bilhete te deu - uma lotaria em pequena escala - lugar 113, caruagem 22. podes até ser a única pessoa no comboio, todos os lugares da carruagem podem estar vazios, mas jamais te sentarás na cadeira ao lado.
somos cegos, a visão periférica está a desaparecer e poucos se questionam, é confortável viver conformado. e os conformados parecem gostar das duas palas invisíveis que deturpam o tempo e o espaço.
fotografia: laura williams
Sem comentários:
Enviar um comentário