23 de novembro de 2014

o corpo que se faz casa

a casa sente-se viva pelos cheiros, pelas luzes acesas, pela roupa no estendal e pelo movimento que se sente ao olhar para ela, ao viver nela.
o corpo certo é a imagem, o reflexo, a fusão entre aquele que constrói e a construção efetiva - os alicerces e as paredes por si não falam nem vivem, só se deixam viver.
não se pode nunca dar por terminada a construção de uma casa com vida, podendo isto tornar o papel do arquiteto inglório. o mesmo se aplica ao corpo, de nada adianta um bacharelato, um mestrado e um doutoramento em anatomia, pois a partilha de experiências no corpo que se faz casa não depende apenas de quem é identificado (e escolhido), mas também de quem identifica (de quem escolhe) e nunca saberemos como o outro nos vê.
mas, à parte das visões deturpadas da realidade individual, é possível sentirmo-nos em casa num corpo exterior ao nosso enquanto fazemos, em simultâneo, do nosso corpo abrigo - e estamos perante uma casa de duas assoalhadas.

encontrar a casa num corpo não se trata de uma questão de arquitetura de espaço mas sim de uma questão de anatomia -  de corpo e calor.



 

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